XT-1 • O Futuro do Pretérito

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As câmeras fotográficas são ferramentas que causam um certo fascínio entre os fotógrafos. Isso é um fato inegável. A Lígia sempre disse isso e eu não discordo. Não é como um pincel de um artista, cujo instrumento se reduz a um pouco de crina de cavalo espetada em um minúsculo pedaço de pau. A câmera fotográfica é mágica! Ela possui botões para serem apertados, rodinhas para serem rodadas, interruptores para serem acionados. Lá dentro rola toda uma mecânica barulhenta e instigante, acionada (nos dias de hoje) por motores eletrônicos. A câmera é complexa. Um instrumento de desejo. Um brinquedo para os adultos. Na verdade, é lente que é o grande ‘tchan’ do negócio, a principal responsável pela qualidade técnica de nossas fotografias… mas é a câmera que tira as noites de sono de um fotógrafo, em especial os iniciantes.

Só que a câmera mudou muito. Antigamente tínhamos em mão os únicos elementos que de fato precisávamos dentro das câmeras: o controle da velocidade do obturador, o ajuste do ISO do filme e a regulagem da abertura, que ficava em um anel ao redor da lente, juntamente com a regulagem do foco. E só. A parte técnica fundamental da fotografia se resume nisso: o controle da luz que entra na câmera e a prioridade da ferramenta utilizada.

Porém, com a introdução da eletrônica na fotografia (antes ela se resumia em mecânica e ótica), os fabricantes começaram a rechear as câmeras com tecnologias exageradas, botões pra todo lado, menus intermináveis, sub-menus confusos e gigantescos, fazendo com que a experiência de se fotografar ficasse cada vez menos intuitiva. As câmeras de hoje são verdadeiros computadores especializados em captar imagens. Além disso, o corpo da câmera cresceu e a empunhadura ficou anatômica, numa tentativa de aproximar as câmeras do contorno das mãos. Esse fato faz com que fique agradável segurar a câmera por muitas horas, mas também pudera, elas estão enormes! Tiraram de nós nossa tão necessária flexibilidade e nos transformaram em burros de carga. Honestamente, as câmeras de hoje parecem manetes de videogame. Não são práticas, não são transportáveis e são intimidadoras. O fato é que isso tudo fez com que a mentalidade do fotógrafo padrão mudasse muito. Antigamente o fotógrafo almejava lentes. Amava as lentes. A câmera era apenas um intermediário entre o olho do fotógrafo e sua objetiva, pois estava nas lentes a mágica toda, como disse acima. Hoje não… fotógrafo quer é mostrar seu equipamento cada vez maior. Acreditam que a fórmula sobrenatural para uma boa fotografia está na aquisição de uma 5D MarkIII. Ou de uma D810. Ou mesmo uma D4s. Câmeras grandes viraram símbolo de status, bem como as lentes fálicas e os flashes arranha-céus. Soma-se isso às intermináveis e enormes mochilas, bolsas, malas, filtros, pilhas, baterias, alças…

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O fotógrafo padrão

A fotografia perdeu a complexidade do olhar e ganhou complexidade na ferramenta. Não estou dizendo que não são feitas boas fotos com essas pesos-pesados. Estou dizendo que o fotógrafo perdeu sua leveza e discrição, e a fotografia ficou complexa demais, com botões demais, recursos demais. A arte do olhar fotográfico está cada vez mais esquecida.

Numa tentativa de reduzir dimensões, criaram o sistema mirrorless, retirando os famosos e barulhentos espelhos das câmeras e aproximando a lente do sensor, fazendo com que o conjunto da obra ficasse menor e mais prático de ser carregado. Um grande avanço, de fato! O futuro da fotografia está nas mirrorless, que respondem de forma mais intuitiva na fotometria e no enquadramento. Mas os menus intermináveis ainda estavam ali, com tudo sendo resolvido nos dials… ah, essas rodinhas dependentes de menus enormes… aperta botão, roda dial, aperta botão, roda dial… entra no menu, aperta botão, roda dial. A verdade é que nunca haviam investido pesado das mirrorless a ponto de torna-las ferramentas de trabalho. Desde sempre elas possuem potencial para tal. Eram (e algumas continuam sendo) câmeras de bolso para os fotógrafos avançados que não queriam carregar tanto peso em passeios curtos.

Pois bem… essa é a história das tradicionais Nikon, Canon, Sony, Pentax, e umas outras menores aí.

Então entra em cena a Fujifilm. Antes de mais nada, vale dizer que a ‘Fuji’, como é chamada carinhosamente, é a maior multinacional do planeta do segmento das películas de filme para fotografia (analógica, obviamente) e para o cinema. Possui sede em Tóquio, 12 indústrias espalhadas pelo mundo, mais de 70 mil funcionários e é grande fabricante de câmaras fotográficas, impressoras, papéis fotográficos, equipamentos de laboratório fotográfico, películas de cinema e minilabs.

Dada a apresentação, vamos à inovação, cujo nome se resume a três signos: XT-1.

O sistema X da Fuji foi lançado há cinco anos atrás e equipa umas 6 câmeras da marca, tendo destaque para a XPro-1 e a X100, antecessoras da XT-1, que falarei logo adiante. Ele foi criado para resolver o  grande incomodo dos fotógrafos digitais no tocante ao ruído excessivo causado por ISO alto. Em uma câmera comum, não é um ruído agradável. Ele distorce as cores da imagem e tira completamente sua nitidez; do contrario do grão causado pelo ISO alto nas películas de filme, que eram suaves e agradáveis, ainda que presentes. A Fuji, sendo perita mestra na fabricação de filmes, criou o sensor X-Trans, que conta com uma distribuição de filtro de cores radicalmente diferente do sensor padrão, simulando facilmente o grão do filme na fotografia digital, mesmo com ISOs bem elevados. A X-Pro1, a primeira a receber esse sensor, era um espetáculo de câmera, mas limitada em tecnologias atuais e oferta de lentes.

É aí que entra a Fujifilm XT-1. Lançada no ano passado, a XT-1 é uma câmera avançada, possuindo praticamente todas as tecnologias atuais, como Wi-Fi, vídeo 1080 / 60p, LCD articulado, múltiplos pontos de foco… e de quebra, voltou com os tradicionais controles de exposição para o corpo da câmera. Não são mais menus e dials que controlam a exposição. Ela é controlada por grandes cilindros no topo do corpo da câmera, criando uma experiência incrível e intuitiva ao utilizá-la, como era nas tradicionais Nikon F, FM, Olympus OM-1, Canon AE1, dentre outras clássicas. Um controle específico para cada ferramenta faz com que fique mais fácil entendê-la.

Outras marcas já tentaram fazer algo parecido. A Nikon apresentou recentemente a Nikon DF, cujo corpo se assemelha às idolatradas Nikons da década de 60 e 70, como FM2, F3, FE. Mas ela pecou em deixar a tecnologia de lado, não possuindo modo vídeo, wi-fi, visor articulado, e outras bungingangas (necessárias) da atualidade. E o pior: pecou no controle de abertura, que fica na vertical, próximo à empunhadura. Nada prático.

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Nikon F no centro

A Fuji criou uma filosofia diferente de abordar as câmeras fotográficas, aproximando o fotógrafo do ato fotográfico, dispensando a ostentação do tamanho e dos adereços.

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O fotógrafo Fuji

E lembrando que a XT-1 é uma mirrorless. Ou seja, não possui aquele espelho grande, pesado e barulhento, que envia a informação de luz que passa pelas lentes para o viewfinder. Não estou sacrificando o sistema SLR, que foi muito útil nas câmeras analógicas, fazendo com que o fotógrafo tivesse uma experiência real ao enquadrar ou trocar de lentes. Mas hoje temos um sensor no lugar do filme, tirando a necessidade de um espelho para redirecionamento da luz ao viewfinder. O próprio sensor já pode fazer o papel de enviar a informação para um LCD posicionado dentro do viewfinder. É o futuro da fotografia! Dentro de alguns anos o sistema SLR estará definitivamente aposentado.

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Fuji XT-1

Mirrorles já existem aos montes, há alguns anos, inclusive Full Frame. Mas a XT-1 não é apenas uma mirrorless. É a síntese da fotografia, unindo o melhor do mundo analógico ao melhor do mundo digital. Ela dispensou as convenções padrão de criação de câmeras e criou uma câmera para o fotógrafo, não para o consumidor. Por conta disso, a Forbes costuma dizer que a Fujifilm é a Apple do mundo fotográfico, pela sua capacidade de inovação e criação.

Vale dizer que ela possui uma qualidade de imagem impressionante. Faz ISO 6400 melhor que muita full frame.

Sem dúvidas um marco na História da Fotografia!

1 comentário em “XT-1 • O Futuro do Pretérito”

  1. Excelente artigo!
    Vi que atualmente a X-T1 tem como sucessora a bem mais cara X-T2; mas existe a X-T20 que tem faixa de preço semelhante a X-T1 e com algumas configurações mais atuais.
    Pelas características que marcam a X-T1, a X-T20 seria também uma opção para se ter a mesma experiência de uso?
    Sds.

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