A arte nem sempre foi feita para ser bonita, cara ou permanente. No final da década de 1960, um grupo de artistas italianos decidiu romper com os padrões estabelecidos e criar obras a partir de materiais pobres, naturais e descartados. Assim nasceu a Arte Povera — expressão que, em italiano, significa literalmente arte pobre. Mas não se engane: por trás dessa aparente simplicidade, está um dos movimentos artísticos mais radicais e influentes do século 20.
O QUE VOCÊ VAI APRENDER NESTE ARTIGO:
- O Que é Arte Povera?
- Características da Arte Povera
- Principais Artistas da Arte Povera
- Qual Foi o Impacto da Arte Povera?
- Arte Povera na Fotografia: Existe Conexão?
- Conclusão

O Que é Arte Povera?
A Arte Povera surgiu na Itália entre os anos 1960 e 1970, como uma resposta crítica à crescente comercialização da arte e ao elitismo do mercado artístico. Os artistas do movimento usavam materiais simples, baratos e efêmeros — como terra, madeira, trapos, pedras, vidro, papelão e até alimentos — para criar obras que questionavam o valor da arte e sua função na sociedade.
O termo foi criado pelo crítico de arte Germano Celant, que organizou a exposição Arte Povera: Im Spazio em 1967, na Galeria La Bertesca, em Gênova. Nessa e em outras exposições, ele mostrou como artistas estavam explorando formas mais autênticas, sensoriais e conceituais de fazer arte, muitas vezes com forte teor político e simbólico.
Características da Arte Povera
As principais características da Arte Povera incluem:
1. Uso de Materiais “Pobres”
Os artistas rejeitavam materiais nobres como mármore, bronze e tinta a óleo, preferindo elementos naturais ou industriais de baixo custo — como cera, carvão, barro, folhas, areia, metal oxidado ou tecido velho.
2. Processo Experimental e Conceitual
Mais do que o objeto final, o processo criativo era valorizado. A obra podia ser efêmera, performática ou até inacabada, convidando o espectador a refletir sobre o tempo, a transformação e o significado da arte.
3. Crítica ao Sistema da Arte
A Arte Povera se opunha à ideia de arte como produto de luxo. Ao utilizar objetos do cotidiano, o movimento questionava os valores do mercado e buscava reaproximar a arte da vida real.
4. Conexão com a Natureza e o Mito
Muitos artistas usavam elementos orgânicos como forma de recuperar a relação ancestral entre humanidade e natureza, misturando arte com memória, espiritualidade e simbolismo.
5. Integração entre Corpo, Espaço e Matéria
Instalações, esculturas e performances envolviam o espaço expositivo de maneira quase teatral, ampliando a experiência sensorial do público.
Principais Artistas da Arte Povera
Jannis Kounellis
Conhecido por usar carvão, sacos de café, tecidos e até cavalos vivos em suas instalações, explorava o peso simbólico dos materiais e suas relações com o corpo e o espaço.
Michelangelo Pistoletto
Criou obras com espelhos e trapos usados, investigando a identidade, o reflexo e a interação entre obra e público.
Mario Merz
Utilizava materiais como galhos, cera de abelha e pedras para criar estruturas que evocavam formas naturais e arquiteturas primitivas.
Alighiero Boetti
Misturava escrita, matemática, bordado e objetos cotidianos em obras que desafiavam o controle do artista e celebravam a colaboração e o acaso.
Qual Foi o Impacto da Arte Povera?
A influência da Arte Povera se estende até hoje. O movimento inspirou práticas como a Land Art e a Arte Ambiental, que usam elementos naturais para criar obras no espaço aberto, bem como o movimento Fluxus, conhecido por suas ações performáticas e materiais não convencionais.
Artistas como Joseph Beuys, na Alemanha, continuaram a explorar materiais “impuros” e simbólicos, com foco em cura, política e transformação social.
Arte Povera na Fotografia: Existe Conexão?
Embora a Arte Povera esteja mais ligada à escultura, instalação e performance, seus princípios podem dialogar com a fotografia artística. Fotógrafos que exploram materiais alternativos, processos artesanais ou que retratam o abandono, a natureza e a efemeridade podem se inspirar nesse movimento para criar imagens carregadas de significado e crítica.
Conclusão
A Arte Povera foi mais do que um estilo — foi uma postura artística e existencial. Ao valorizar o imperfeito, o descartado e o transitório, ela nos lembra que a arte não precisa ser cara ou “bonita” para ser profunda e transformadora. Em tempos de hiperconsumo e excesso de imagens, o legado da Arte Povera ainda nos provoca a olhar para o essencial e refletir sobre o que realmente importa.