Tratado Geral de Semiótica de Umberto Eco

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Para além da estética, a fotografia não é apenas uma imagem bonita; ela é uma linguagem, com regras, códigos e significados. Umberto Eco, em sua obra Tratado Geral de Semiótica, nos mostra que uma foto nunca é apenas o que vemos, mas aquilo que interpretamos a partir de signos visuais, culturais e perceptivos.

Cada enquadramento, cada sombra, cada gesto capturado funciona como uma palavra ou frase dentro de um sistema maior de comunicação. Assim, fotografar deixa de ser apenas clicar e passa a ser escrever com luz e composição, transmitindo ideias, emoções e histórias.

Para fotógrafos, isso significa que cada escolha — lente, ângulo, luz, cor — tem peso semântico. Entender a fotografia como linguagem ajuda a criar imagens mais conscientes, com impacto visual e narrativo.

O QUE VOCÊ VAI APRENDER NESTE ARTIGO:

Crítica da Imagem de Umberto Eco: o que ela ensina sobre fotografia e interpretação visual
Umberto Eco

A fotografia e o mito da transparência

Muitos acreditam que a fotografia é uma representação direta da realidade. Afinal, uma foto de uma zebra “parece” uma zebra, certo? Mas Umberto Eco desmonta esse mito em sua obra Tratado Geral de Semiótica: o que vemos não é a realidade em si, mas uma representação codificada.

Nosso olhar é moldado por cultura, aprendizado e contexto. Por exemplo, povos que nunca tiveram contato com a fotografia podem ter dificuldade em reconhecer objetos retratados em imagens. Isso mostra que a fotografia não é universal, mas uma convenção social e simbólica.

Eco identifica diversos códigos que estruturam a percepção das imagens, desde aspectos perceptivos básicos — como contraste, cor e forma — até elementos culturais e históricos que atribuem significado a cada composição.

Para fotógrafos, esse insight é poderoso: cada clique não carrega apenas luz, composição e técnica, mas também significados culturais e simbólicos. Entender isso permite criar imagens mais conscientes, profundas e capazes de comunicar além do visual.

Crítica da Imagem de Umberto Eco: o que ela ensina sobre fotografia e interpretação visual

Os códigos que moldam nossa percepção

Umberto Eco identificou 10 códigos principais que influenciam como interpretamos imagens. Na prática fotográfica, alguns deles se destacam de forma evidente.

Esses códigos nos lembram que fotografar não é apenas capturar uma cena, mas comunicar narrativas visuais, emoções e significados. Entender e aplicar esses princípios ajuda a criar imagens que transcendem o visual e dialogam com quem as observa.

1. Códigos Perceptivos

Exemplo: Migrant Mother, de Dorothea Lange – a nitidez no rosto da mãe guia nosso olhar diretamente para a emoção contida na cena.

2. Códigos de reconhecimento:

Permitem identificar objetos pelos traços mais marcantes.

Exemplo: The Falling Man, de Richard Drew – a postura vertical do corpo transmite imediatamente angústia e tensão.

Crítica da Imagem de Umberto Eco: o que ela ensina sobre fotografia e interpretação visual

3. Códigos de transmissão

Relacionados à reprodução da imagem em diferentes mídias, que alteram a percepção do público.

Exemplo: Earthrise, de William Anders – divulgada pela NASA, transformou a maneira como vemos a fragilidade do planeta.

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4. Códigos tonais

A cor, o contraste e a luz criam atmosferas e emoções distintas.

Exemplo: Afghan Girl, de Steve McCurry – o verde intenso dos olhos em contraste com o vermelho do véu intensifica o impacto emocional.

5. Códigos Icônicos

Regras para estruturar elementos visuais e criar significado, incluindo:

  • Figuras: elementos perceptivos básicos (contraste claro/escuro, relações geométricas).
  • Signos: objetos reconhecíveis (nuvens, olhos, cavalos).
  • Semes: composições complexas que comunicam uma mensagem (ex.: “um rei no trono”).

Exemplo: Lunch Atop a Skyscraper – a postura relaxada dos trabalhadores transmite o espírito destemido da era industrial.

Crítica da Imagem de Umberto Eco: o que ela ensina sobre fotografia e interpretação visual

6. Códigos iconográficos

Transformam objetos ou figuras em símbolos culturais.

Exemplo: Retrato de Che Guevara – mais que um rosto, tornou-se um ícone de resistência e ideologia.

Crítica da Imagem de Umberto Eco: o que ela ensina sobre fotografia e interpretação visual

7. Códigos de Gosto e Sensibilidade

Moldam respostas estéticas e emocionais, variando conforme cultura e período histórico.

Exemplo: Moon and Half Dome, de Ansel Adams – iluminação e composição dramáticas evocam uma sensação de sublime, reforçando a estética paisagística do século XX.

Crítica da Imagem de Umberto Eco: o que ela ensina sobre fotografia e interpretação visual

8. Códigos Retóricos

As imagens podem funcionar de forma retórica, como a linguagem. Eco divide em:

  • Figuras retóricas visuais: análogas a metáforas e metonímias da fala.
  • Premissas retóricas visuais: imagens que estabelecem um contexto, como uma estrada entre árvores evocando solidão.
  • Argumentos retóricos visuais: sequências de imagens que criam sentido, como no cinema ou fotojornalismo.

Exemplo: The Execution of a Viet Cong Prisoner, de Eddie Adams – a sequência de expressões e movimentos constrói um argumento visual sobre a brutalidade da guerra.

Crítica da Imagem de Umberto Eco: o que ela ensina sobre fotografia e interpretação visual

9. Códigos Estilísticos

Diferenciam escolhas artísticas individuais e movimentos estéticos.

Exemplo: Dali Atomicus, de Philippe Halsman – a composição surrealista reflete o estilo único de Dalí.

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10. Códigos do Inconsciente

Algumas imagens despertam associações subconscientes, por padrões psicológicos ou condicionamento cultural.

Exemplo: The Burning Monk, de Malcolm Browne – o impacto visual das chamas provoca reações instintivas de horror e reverência.

Crítica da Imagem de Umberto Eco: o que ela ensina sobre fotografia e interpretação visual

Por que isso importa para fotógrafos hoje

Vivemos em um mundo saturado de imagens — nas redes sociais, na publicidade, nos jornais. Entender os códigos da fotografia é desenvolver uma leitura crítica do mundo visual, percebendo que cada foto carrega escolhas, significados e narrativas.

Para o fotógrafo, isso vai muito além da técnica: é sobre criar com consciência, decidindo não apenas o que registrar, mas como comunicar emoções e ideias através da imagem. Cada enquadramento, cada luz e sombra, cada gesto capturado pode transformar uma foto comum em uma narrativa potente.

💡 Para quem deseja dar o próximo passo na fotografia e aplicar esses conceitos:


Conclusão

Umberto Eco nos lembra que toda fotografia é linguagem. Não há neutralidade: cada clique traz escolhas estéticas, culturais e emocionais.

Ao reconhecer os códigos que estruturam as imagens, você não só fotografa melhor, mas também lê o mundo com mais consciência.

E você? Já parou para pensar que códigos aparecem nas suas fotos?
Compartilhe sua visão e comece a experimentar novos olhares hoje mesmo.

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